quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Projecto estratégico - Desígnio nacional

O investimento estrangeiro criará emprego e gerará, em simultâneo, inovação e produção de materiais tecnológicos que, por sua vez, serão alvo de exportação, resultando globalmente em criação de riqueza.

















À luz desta incontestável construção lógica, não podemos deixar de apontar que as apostas estratégicas perspectivadas pelo governo são, manifestamente, redutoras, básicas, insuficientes e inconsequentes.
De facto, Portugal acaba de desperdiçar as duas últimas décadas, porque seguiu o caminho mais fácil. Seguiu o caminho que implicava menos coragem e nenhuma imaginação. Tais opções estratégicas descoordenadas traduziram-se em obras públicas, um pouco por todo o país, cujo financiamento foi alimentando descontroladamente, ao ritmo de 10% /ano, o aumento da dívida externa.
Não seria, de todo, gritante tal evolução da dívida caso os investimentos que a originaram, tivessem rentabilidade, no mínimo, superior aos encargos. Pelo contrário, assistimos a crescimentos económicos comparados sempre frouxos.
Qualquer política económica que radique, obstinadamente, em auto-estradas, comboios de alta-velocidade e aeroportos é pautada pelo facilitismo político. Alguém duvida de que a política do betão é a coisa mais simples que existe? A solução do puzzle está no enquadramento dos elementos potenciadores num quadro estratégico orientado para a ignição propulsiva do esquema lógico acima exposto.
TGV e Aeroporto sim, mas como braços-direito de um desígnio nacional, isto é, objectivados como meios que potenciem a concretização de todo um modelo económico. Isolados e encarados como principais objectivos nacionais nunca gerarão mais riqueza do que despesa, que se traduzirá em maiores transferências de capital para o estrangeiro( juros do financiamento) do que criação de valor cá dentro( aumento do PIB). Esta diferença é reflectida pelo Rendimento Nacional Bruto, indicador do bem-estar social. Fazer obras e investir desta forma torna-nos mais pobres.
Estão, portanto, enunciados os consecutivos erros estratégicos que podem resumir-se a uma simples inexistência de rumo, seria ridículo e infantil pela análise ficar-me.
Se tenho dito que seguimos nos últimos 20 anos o caminho laxista, não me cumpre, nada menos, do que apontar o caminho “difícil”.
“Difícil”, porque uma vez reflectido e estruturado, jamais poderá questionar-se a sua execução. O caminho difícil implica uma compilação estratégica, cujos desideratos últimos, só se verão concretizados a muito longo prazo, ao contrário do caminho fácil, em que constrói-se hoje e vê-se amanhã, sendo de um impacto constante e limitado. Para seguir o rumo correcto é preciso muita coragem, muita determinação, muita paciência e muito sentido de Estado.
Posto isto, a questão óbvia é a de encontrar os fenómenos que desencadearão interesse e, decorrentemente, investimento estrangeiro.
A mão-de-obra é uma palavra-chave. A mão-de-obra só será competitiva através do seu baixo custo ou pela sua altíssima qualificação e especialização. A nossa mão-de-obra só foi razoavelmente competitiva quando os salários eram muito baixos, tendo e bem perdido esse factor de competitividade. Salários baixos não é, já nem será o futuro. Daí que tenhamos de apontar baterias para a qualificação de elite dos portugueses e não só, como adiante explicarei. Na actualidade, a mão-de-obra nacional está num meio-termo, embora relativamente qualificada não o é o suficiente para figurar num ranking das mais procuradas e apesar dos vencimentos serem baixos, também já são elevados demais para ser condição de investimento.
Fica assente, então, que no contexto actual, só uma mão-de-obra de referência pode ser alvo de cobiça estrangeira, pelo que a questão é como alcançá-la.
Numa primeira fase teremos que edificar infra-estruturas de topo inseridas num pólo tecnológico. Se ambicionamos oferecer e ministrar um ensino de excelência ter-se-à de dispor de meios físicos de excelência. Temos de construir as mais avançadas infra-estruturas universitárias do mundo, designadamente construir o melhor laboratório que alguma vez existiu. A excelência, inovação e magnificência serão os padrões orientadores das infra-estruturas orientadas para as vertentes científica e tecnológica. Outro fenómeno que será desafiante e, imensamente, estimulante é o da integração e interacção do actual ensino superior com este pólo universitário originando um super-cluster.
No entanto, não basta ter as melhores instalações para aumentar a competitividade do nosso ensino. Há que preenchê-las com os melhores. A aposta deverá ser, igualmente, forte no corpo docente. Temos de entrar num autêntico mercado da massa-cinzenta, pagando mais do que os outros. Alguém tem dúvidas de que os cérebros portugueses que exercem a sua actividade no estrangeiro, prefeririam ficar em Portugal se pagássemos o mesmo, com as mesmas condições?
Temos de inverter o processo de que fomos vítimas ingénuas. Trazer de volta os nossos investigadores e cientistas e atrair os seus congéneres estrangeiros. O esforço financeiro a fazer para contratar os melhores tenderá a ser menor quanto maior for o prestígio, daí que a alavancagem inicial reveste-se de assinalável decisividade. Um outro efeito associado ao aumento exponencial do prestígio é a atracção natural dos melhores alunos mundiais, mormente asiáticos, que procuram o melhor ensino(melhores instalações e melhores professores), que acabarão muitos deles por estabelecer um vínculo emocional e profissional com o nosso país, contribuindo para a aceleração e consolidação de todo o projecto.
Estruturado que esteja este pólo universitário de referência, está criada a alavanca desencadeadora do tão almejado investimento estrangeiro que gerará muito emprego. A sinergia do pólo com o investimento suscitará a inovação e desenvolvimento de produtos científicos e tecnológicos dentro das nossas fronteiras, evitando as importações e fomentando as exportações, combatendo agressivamente o défice comercial. Como corolário final deste projecto estratégico, atingiremos taxas de crescimento económico muito acima da média, ou seja, criação de riqueza, sem que daí resulte transferências externas avultadas, bem pelo contrário.
Resta-me concluir dizendo que a nossa felicidade está aqui. Está a uma distância de 15, 20 anos. Duas décadas de paciência e determinação para compensar duas décadas de erros. Inverteremos a nossa realidade e contrariaremos a que nos espera. Porque actualmente, 6% do nosso PIB serve para pagar juros da dívida externa, consequência de obras que criaram menos riqueza do que despesa. E em comparação, e não se riam nem chorem, a percentagem do PIB afecta ao ensino superior fica-se pelos 0,71%. Estes números por si só revelam a inexistência estratégica de um país que governa a pensar no amanhã de manhã e masoquísticamente vai repetindo a receita do investimento público avulso e imediato. Pensem nisto: sabem qual a pior coisa que nos pode acontecer se decidirmos tentar ser felizes?

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