domingo, 21 de dezembro de 2008

Pode o medo da Deflação lançar-nos em uma Inflação descontrolada?

É certo que não sou ninguém para fazer comentários profundos sobre a matéria. É certo, ainda, que não acrescentarei nada de novo sobre a questão. Porém, como vivemos em um Mundo onde é lugar-comum ter uma opinião fundada e profundamente pseudo-informada sobre o tudo e o nada, sob pena de sermos tomados por pessoas desinteressantes, ou pior, por fulanos sinceros no nosso desconhecimento, não me vou coibir de dar uma opinião sobre o perigo da deflação.
Ocorre que, neste último mês, muitos têm sido aqueles que alertam que a presente crise revela sérios sinais de se afundar em uma deflação. Memórias negras daqueles que não viveram as catástrofes da década de 1930 e que, para variar, falam de cor, retirando umas frases feitas de uns quantos manuais escolares ou da velha, mas conveniente, cartilha partidária. Não deixa de ser interessante presenciar a artificialidade do medo de quem participa no inicio do fim de todo um modo de vida. É impressionante como até as manifestações de receio parecem manchadas por uma dose de alheamento. Ainda há um ano o perigo do fim do Mundo residia em uma inflação descontrolada. Hoje, contudo, está presente na deflação e a inflação elevada é a nossa aliada para a combater.
Este género de raciocínio linear peca, a meu ver, pela sua estreiteza. Nem a inflação, nem a deflação são isoladamente o alfa e o ómega do Mundo como o conhecemos, antes pelo contrario, a relevância destas reside verdadeiramente quando tomadas seu conjunto, como se de siamesas se tratassem. Nesse sentido, e como estas não deveram ser tomadas isoladamente, para manter uma Sociedade em um nível certo, entre inflação e deflação, um equilíbrio entre muito e pouco crescimento económico revela-se necessário. A seguir a um movimento de expansão, segue-se um movimento de retracção, sendo que ambos não deveram ser descontrolados. A questão, todavia, não reside em uma qualquer fórmula matemática de cálculo exacto. Caso contrário, como justificar que de uma previsão de um lucro para 2008 na ordem de 60 milhões de euros, a TAP acabasse por anunciar um prejuízo na ordem dos 170 milhões? A Economia, enquanto ciência social, não é exacta. O elemento humano acresce-lhe uma dose de indeterminismo. Muito mais importante do que calcular activos e passivos, é a gestão das expectativas. Ora, esta, por seu lado, necessita de credibilidade, tanto por parte da Sociedade Civil, como do Estado. Assim sendo, é relevante assinalar no processo de capitalização da CGD a recusa pela Banca Internacional do aval do Estado Português. Será isto indício de que os níveis de endividamento do Estado estão já a ultrapassar o comportável? Os sucessivos anos de deficits e de ausência de superavits primários, tanto em períodos de expansão, como em períodos de contracção terá enfim corroído a credibilidade do Estado Português enquanto devedor? Não deixa de ser relevante o facto de em 2005, este ter descido da categoria AA para A- em matéria de capacidade e respeitar os seus débitos em organizações bancárias internacionais. Afinal, quando Keyneys defendeu na década de 1930 o recurso ao endividamento e a gestão de deficits crescentes, ou seja, o recurso a uma política orçamental que impulsionaria para patamares elevados a inflação, a divida pública do estado britânico rondava os 600 milhões de libras em 1932. Em 2008, porém, o Estado Português requereu ao BEI um empréstimo na ordem dos 40 mil milhões de euros. O contexto histórico entre estas duas situações será então certamente díspar. Daí, consequentemente, o risco de se lançar mão de velhas receitas que embora tendo funcionado no passado, não terão que forçosamente ser bem sucedidas no presente. Atender aos particularismos do caso concreto revela-se fundamental, pois, ao contrário do que muitos convenientemente mencionam, a História não se repete. Os Historiadores é que tendem a repetir-se.

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